Saúde dos professores em alerta |
Muitos
deles encaram três turnos de jornada de trabalho. E precisam se
deslocar entre diferentes pontos para executar suas funções. O acúmulo
de serviço e a falta de estrutura adequada para desempenhá-lo são
queixas frequentes. Esses são alguns dos ingredientes da rotina dos
professores da rede pública, o que faz com que a saúde desses
profissionais esteja em alerta.
A carreira no magistério, já considerada
pela OMS (Organização Mundial da Saúde) uma das mais estressantes, tem
afastado cada vez mais docentes da sala de aula. Na rede estadual de São
Paulo, em que atuam 220 mil professores, são observados 92 afastamentos
por motivo de saúde por mês, ou seja, cerca de 33 mil docentes longe
das salas anualmente. Destes, 19 mil são em função de depressão.
Procurado, o governo do Estado não se pronunciou.
Pesquisa da Apeoesp (Sindicato dos
Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo) de 2010 mostra que
também estão entre os principais motivos para o afastamento problemas
na voz, LER (Lesão por Esforço Repetitivo) e obesidade. "Isso é
consequência de jornada estafante, falta de infraestrutura e salas de
aula superlotadas", observa a presidente da entidade, Maria Isabel
Noronha.
O levantamento destaca ainda que entre
as principais queixas dos professores estão superlotação das salas de
aula (66,2%), jornada excessiva (60,1%) e violência nas escolas (57,5%).
No âmbito municipal, a situação também é preocupante. Entre Santo
André, São Bernardo, São Caetano, Diadema e Ribeirão Pires, o índice de
profissionais afastados em 2011 foi de 31% do total de 10.540
educadores. São Bernardo lidera o ranking com 2.637 dos 4.400
professores da rede municipal impedidos lecionar no ano passado por
doenças no aparelho respiratório, nos olhos e problemas psiquiátricos.
Na visão da professora de Psicologia da
Educação da Faculdade de Educação da USP Sílvia Colello, é preciso
separar as dificuldades que acometem os educadores em dois tipos:
desgastes físicos e emocionais. "A desvalorização do docente pela baixa
remuneração e pouco reconhecimento gera doenças sociais, como a
depressão", diz.
O tema é pauta de discussão nos
sindicatos municipais, estaduais e federais da categoria. Para a
secretária geral da CNTE (Confederação Nacional dos Trabalhadores da
Educação), Marta Vanelli, a implantação da Lei do Piso (nº 11.738) é
parte da solução do problema que afeta professores em todo o País. A
recomendação da ONU (Organização das Nações Unidas), segundo a educadora
de Santa Catarina, é que 50% da jornada de trabalho seja dedicada a
atividades extraclasse. "Estamos tentando passar de 20% para um terço,
mas está bem difícil", comenta.
Segundo Marta, a OMS (Organização
Mundial da Saúde) orienta que o professor só trabalhe em um período,
recomendação pouco seguida. Desempenhar outras funções na escola é
alternativa Nem sempre o afastamento da sala de aula significa ficar em
casa. Os educadores são remanejados para outras funções dentro da
unidade escolar - a chamada readaptação. A depressão afastou do trabalho
há cinco anos a educadora Valéria do Nascimento, 45 anos. Desde então, a
funcionária de escola municipal em Diadema exerce outras atividades
dentro da unidade, na secretaria e biblioteca. A vontade de voltar a
lecionar existe, mas a intolerância ao barulho a impede. Professora há
23 anos, ela diz que ensinar é desgastante porque obriga o profissional a
transmitir conhecimento e auxiliar na resolução de problemas sociais
dos alunos.
Outra dificuldade citada é a tarefa de
lidar com temas como bullying. Em São Bernardo, nódulo nas cordas vocais
resultou, há quatro anos, no afastamento de professora de 57 anos, que
preferiu não se identificar. Após período longe do giz e da lousa, ela
já pode voltar ao trabalho nas redes estadual e municipal. "A principal
dificuldade é a falta de limite dos estudantes, além de ter de competir
com o som da rua."
AMEAÇA
A docente Miza Possidônio, 44, chegou a
repensar a carreira exercida há 14 anos em escolas estaduais e
municipais de Santo André após sofrer ameaça de morte de estudante do 9º
ano do Ensino Fundamental. Por receio de que a família fosse
prejudicada, a educadora decidiu registrar boletim de ocorrência.
"Espero que melhore a vida dos professores e que passem a ser mais
respeitados", diz.
Apesar da intimidação, ela continua
lecionando. A Secretaria da Educação do Estado informou que a direção da
unidade convocou a professora e a aluna para reunião e que os
responsáveis pela estudante também serão chamados. Além do Conselho
Tutelar ser acionado, o caso é acompanhado pelo professor-mediador da
escola.
Prefeituras intensificam acompanhamento
profissional Na rede municipal, as prefeituras garantem intensificar o
acompanhamento dos educadores. De acordo com as administrações públicas,
também são feitas ações com intuito de melhorar as condições de
trabalho, como implantação de material didático adequado e capacitação
profissional.
Em Santo André, desde 2009 os docentes
são monitorados por juntas médicas. Além disso, a administração destaca
intervenções no ambiente escolar nos aspectos estéticos e de limpeza,
investimento em melhoria salarial e cursos. Outro ponto é a gestão
participativa que dá ao professor oportunidade de manifestar-se. São
Bernardo avalia todos os servidores por meio do Serviço de Saúde
Ocupacional.
Nos próximos meses, serão agendados
exames periódicos dos professores para acompanhamento e prevenção de
problemas. Na tarefa de melhorar as condições de trabalho, é feito
fortalecimento dos professores e gestores quanto às demandas encontradas
no cotidiano das escolas. As unidades escolares de São Caetano
disponibilizam equipe técnico-pedagógica, inspetores de alunos e
auxiliares de primeira infância, além de recursos pedagógicos e
tecnológicos para auxiliar os educadores.
Para professores afastados, a Prefeitura
oferece atendimento de serviço médico e psicológico. Diadema opta por
investir em suporte pedagógico, formação continuada, infraestrutura
adequada e mobiliário, além de se comprometer com a melhoria da carreira
e do salário com a implantação recente do Plano de Carreira do
Magistério. Ribeirão Pires informou que oferece acompanhamento e
avaliação periódica dos funcionários pelo médico do trabalho. A
Secretaria da Educação do Estado não respondeu aos questionamentos.
Fonte: Diário do Grande ABC |
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